GTec - Newsletter - 25.03
Newsletter (mais ou menos) quinzenal do Grupo de Estudos em Filosofia e História da Técnica
Olá, pessoal, esta é a mais nova edição da newsletter do GTec. Nesta edição, falaremos sobre os próximos encontros, que voltaram a ser nas quartas-feiras, e também trocaremos algumas referências sobre técnica, gambiarra, doenças psicológicas e outros temas agradáveis.
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Próximo encontro
Nossa próxima reunião será na quarta-feira, 31/03, às 18h. O evento já foi criado no Facebook, onde também está o link para as leituras do dia. Lembrando que o link para a reunião estará disponível no site da APPH logo antes do início da reunião.
No próximo encontro, voltaremos à leitura do livro Do modo de existência dos objetos técnicos. Leremos o sexto capítulo, “Relações entre o pensamento técnico e as outras espécies de pensamento”. No capítulo, Simondon continua explorando a gênese da tecnicidade entre os modos de pensar humanos, elaborando as relações entre técnica e estética, entre o pensamento teórico e o prático.
O texto já está disponível na pasta do GTec no Google Drive, assim como o restante do livro.
Próximas leituras
Além disso, também definimos o calendário de leituras dos nossos próximos encontros.
Após a nossa próxima reunião, o encontro subsequente ocorrerá na quarta-feira, 14/04, e terá como título Ciberfeminismo e tecnicidades contra-hegemônicas. A leitura deste encontro ainda será anunciada, mas terá como base o trabalho de Sadie Plant.
Na quarta-feira, 28/04, voltaremos a Simondon e leremos o capítulo VII de Do modo de existência dos objetos técnicos, “Pensamento técnico e pensamento filosófico”.
Já o encontro seguinte, no dia 28/04, será dedicado à leitura integral do romance The Ministry for the Future, de Kim Stanley Robinson. Lançado no final de 2020, o livro imagina um cenário de catástrofe e recuperação após a intensificação da catástrofe climática. O encontro realiza um desejo nosso já acalentado há tempo, qual seja, a leitura de obras de ficção científica que discutam, a seu modo, as questões entre técnica e sociedade. Já lemos Estrela Vermelha, de Aleksandr Bogdánov, e agora leremos o novo livro do escritor norte-americano.
Como se trata de uma leitura extensa, já disponibilizamos o link para o romance completo na pasta do Google Drive.
Mais Simondon
Recentemente o IBICT, ligado à UFRJ, transmitiu uma conversa entre Ricard Pimenta, da própria instituição, e Danilo Melo, da UFF, sobre o pensamento de Simondon. A conversa é uma boa introdução à obra do filósofo, abordando-a para além da reflexão sobre a técnica para incluir também o tema da individuação - no fim, inseparável da sua reflexão sobre os aparelhos técnicos. A conversa está disponível no canal do IBICT no YouTube.
E o professor Rodrigo Nunes, da PUC-Rio, compartilhou o programa de sua disciplina deste semestre sobre Simondon. Dedicada à exploração de Do modo de existência dos objetos técnicos, é uma boa fonte para leituras complementares sobre o filósofo francês. Nunes gentilmente disponibilizou a pasta com as leituras da disciplina. Para quem tiver interesse em participar como ouvinte e acessar as aulas gravadas, basta entrar em contato com ele.
“Máquinas fora do lugar”
Fora do lugar, foi assim que Vinicius Portella definiu a relação entre os desdobramentos históricos do idealismo alemão em toda sua materialidade, estudados por Kittler, e outros contextos intelectuais e sociais, especialmente o brasileiro. O que a história do desenvolvimento técnico em situações periféricas tem a dizer sobre os processos mais amplos do desenrolar da própria tecnologia?
Sem responder necessariamente essas questões, lembramos da relação entre tecnologia e gambiarra. Sobre o assunto, nosso colega Arthur Seidel compartilhou o artigo “Objetos técnicos sem pudor: gambiarra e tecnicidade”, de Fernanda Bruno. Segundo a autora, o conceito de gambiarra propõe “uma apropriação despudorada e inventiva dos objetos técnicos”, revelando também um potencial político e cognitivo próprio.
Ainda sobre o mesmo assunto, José Messias publicou o artigo “Gambiarra como mediação: um encontro entre materialidades da comunicação e filosofia da técnica a partir das mídias digitais”. Partindo do mesmo ponto que Fernanda Bruno, Messias desenvolve o conceito de gambiarra para que não seja visto como sintoma de falta e precariedade, mas como parte intrínseca da incompletude do objeto técnico. Com esse movimento, o autor propõe que a gambiarra sinalizaria a passagem de um contexto pós-colonial mercado pela precariedade para uma epistemologia pós-colonial que invalida qualquer recorte fixo entre sujeito e objeto.
Ainda por ocasião da leitura de Kittler, lembramos duas referências que englobam os “sistemas de notação” em torno ao aparecimento de formatos de mídia específicos. O primeiro é o ensaio “It Looks Like You’re Writing A Letter”, de Matthew Fuller, que explora a dinâmica da escrita através do Microsoft Word e sua relação com os aparelhos de fotocópia. Também relacionado ao assunto, vale a pena conferir o livro Track Changes: A Literary History of Word Processing, de Matthew G. Kirschenbaum, que analisa o desenvolvimento dos processadores de textos desde a década de 1970 e seu impacto sobre a produção literária em língua inglesa.
A segunda (ou talvez terceira) referência é o livro Mp3: The Meaning of a Format, de Jonathan Sterne. O livro é uma brilhante investigação de arqueologia das mídias que explora a história do .mp3 desde o desenvolvimento da compressão de áudio nos Bell Labs na década de 1920 e chega até às discussões sobre propriedade intelectual e direitos autorais incitadas pela troca de arquivos digitais de música.
Todas as referências citadas são belos exemplos da produtividade do enquadramento que Kittler proporcionou para os estudos de mídia, ao enfatizar a relação entre técnica, materialidade das mídias e produção discursiva.
Outras referencias
A editora Todavia publicou nova edição de Memórias de um doente de nervos, de Daniel Paul Schreber. O livro, que inspirou um famoso texto de Sigmund Freud sobre a paranoia, também motivou a leitura de Kittler faz da própria psicanálise.
Em Gramofone, Filme, Typewritter, Kittler também menciona o filme Sans Soleil, do cineasta francês Chris Marker. Lançado em 1983, o longa é um ensaio sobre a memória, as técnicas de registro e a diferença cultural. Para quem assina o Mubi, o filme está disponibilizado permanentemente na seção de Acervo recentemente criada pelo serviço. Quem já conhece e quiser aprofundar seu interesse no filme, fica a referência da reflexão feita por Rogério Luiz Oliveira, que articula as três dimensões da obra de Marker. Já para quem está interessado na relação do filme com a fotografia e com as imagens técnicas, indicamos o artigo “O olhar no tempo do instantâneo”, de Elaine Zeranze.
Continuando nas referências intelectuais de Kittler, nosso colega Vinícius Portella, já mencionado nesta edição, gravou uma introdução à obra de Thomas Pynchon que vale a pena ser vista. O autor norte-americano, especialmente seu livro O arco-íris da gravidade, de 1973, é uma das inspirações do pensador alemão. Ambos compartilham o mesmo clima de paranoia e militarização. O vídeo está disponível no YouTube.
Nossa colega Renata Aquino compartilhou a referência do podcast Your Undivided Attention. Produzido pelo Center for Humane Technology, o podcast é uma visão abrangente da relação entre tecnologias digitais e sociedade. Outra referência nesse sentido, já citada em outra edição da newsletter, é o podcast Tech Won’t Save Us. Juntos, os dois programas são visões céticas, porém consistentes, dos impactos, dos limites e das possibilidades da tecnologia na atualidade.
“Como se lembram as pessoas que não filmam, que não tiram fotos, que não gravam? Como fazia a humanidade para se lembrar?”, pergunta Sandor Krasna, pseudônimo de Chris Marker em Sans Soleil.
Essa foi a nova edição da newsletter do GTec. Compartilhe, divulgue e se inscreva para receber nossas novidades. A newsletter é enviada quinzenalmente.
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