GTec - Newsletter - 17.06
Newsletter quinzenal do Grupo de Estudos em Filosofia e História da Técnica
Olá, pessoal, essa é a mais nova edição da newsletter do GTec. Nela, anunciamos nossa próxima empreitada - a leitura de Técnica e tempo, de Bernard Stiegler (ou, ao menos, de seu primeiro volume) - e trazemos obras e conteúdos de referência sobre o filósofo francês. No final, falamos também de literatura, petróleo e arte.
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Próximo encontro
A próxima reunião do GTec será na quarta-feira, 23/06, às 18h. O evento já foi criado no Facebook, para quem quiser confirmar presença pela plataforma. Lembrando que o link para a reunião estará disponível no site da APPH logo antes do encontro.
Nosso próximo encontro inaugura nosso segundo projeto de longo prazo. Após a leitura de Do modo de existência dos objetos técnicos, de Gilbert Simondon, começaremos a leitura de Técnica e tempo, de Bernard Stiegler.
Obra principal do autor, infelizmente falecido na metade do ano passado, Técnica e tempo é uma revisão ampla da reflexão sobre a técnica. Partindo tanto de Simondon quanto de Martin Heidegger, passando por Jean-Jacques Rousseu, André Leroi-Gourham e Bertrand Gille, Stiegler reforça a necessidade de desfazer a dicotomia entre cultura e técnica. Para ele, a técnica está na origem do modo de ser humano na Terra: é pela capacidade de projeção e antecipação, envolvida na criação de ferramentas, que podemos adquirir historicidade e nos relacionarmos - contra Heidegger - de maneira “apropriada” com o tempo. Nesse sentido, sua obra resgata a técnica do limbo filosófico que a reflexão mais idealista da reflexão germânica do Dasein a havia condenado.
Iniciaremos o percurso voltando à “Introdução geral” da obra, que já foi leitura do nosso segundo encontro. Quase um ano depois, qual será a leitura de Stiegler proporcionada pelo término da obra de Simondon e o conjunto de questões levantadas em um ano de GTec?
Leremos a edição em inglês da obra, Technics and Time, volume 1 - The Fault of Epimetheus, diposnível na pasta do GTec no Google Drive.
Mais sobre Stiegler
A obra de Stiegler não se resume a Técnica e Tempo. Em sua vida, publicou mais de vinte livros, nos quais se destaca a relação entre pensamento filosófico e a atualidade - ele tratou, por exemplo, dos atentados do 11 de Setembro, do ataque à redação do Charlie Hebdo, entre outros temas do interesse contemporâneo. Stiegler ocupava, assim, a posição de filósofo e intelectual público.
Sua obra tem sido crescentemente lida no Brasil, mas ainda é pouco conhecida. No país, entre as pesquisadoras e pesquisadores que têm se dedicado a estudar e a mobilizar a obra de Stiegler em seus trabalhos, pode-se mencionar Ednei de Genaro, cuja dissertação parte da leitura de Stiegler das obras de Heidegger e Simondon para abordar, por meio da sociologia, a relação entre tempo e modernidade. O trabalho está disponível aqui. Outra reflexão é a de Adelaide Pacheco, que resume e problematiza a relação de Stiegler com o antropoceno. O artigo está disponível no seguinte link.
Para além dessas referências, quem quiser se aprofundar mais na obra do autor pode acessar o dossiê da revista boundary 2 de 2017 com textos de Stiegler traduzidos para o inglês e artigos que tratam da sua obra tardia, principalmente a relação entre técnica, estética e trabalho. Após sua morte, o periódico Parrhesia também reuniu e disponibilizou os textos de autoria de Stiegler que haviam sido publicados em suas páginas, além de outras reflexões sobre sua obra.
Uma bela introdução é a série de quatro vídeos sobre Stiegler feitos pelo canal Transe, no YouTube. Os vídeos apresentam a obra do autor e tratam de sua filosofia social e da relação entre tempo e cinema, além da relação entre técnica e tempo, naturalmente.
Por fim, para quem quiser ler Stiegler em suas próprias palavras, o autor conta - à maneira de Rousseau nas Confissões - sua passagem pela prisão e sua “conversão” à filosofia no período de cinco anos em que ficou encarcerado. O relato está no livro Acting Out, disponível na pasta do GTec.
3TRG
O grupo-irmão do GTec na APPH, 3TRG, também iniciará um projeto de maior prazo na semana que vem. Trata-se da leitura de Technics and Civilization, de Lewis Mumford. Texto clássico da reflexão moderna sobre a técnica, publicado em 1934, o autor argumenta que a relação entre técnica e sociedade não é determinada pelas máquinas que são criadas, mas pelas escolhas morais, econômicas e políticas que fazemos; são elas, e não o desenvolvimento técnico em si, que teriam levado à transição para o capitalismo. O livro está disponível aqui.
Outras referências
O caráter fragmentado da narrativa de The Ministry for the Future, de Kim Stanley Robinson, motivou debater sobre qual a melhor maneira de contar os processos que estamos vivendo, principalmente a mudança climática. Qual a relação entre processos amplos, que escapam à dimensão humana, e a experiência subjetiva, que tem ancorado a narrativa do romance desde seu surgimento no século XVIII? Uma reflexão sobre o assunto, do ponto de vista de quem escreve ficção, é feita em The Great Derangement, de Amitav Ghosh. O livro é um apelo para novas formas de imaginar as histórias que contamos sobre a sociedade, a humanidade e sua relação com o planeta.
E, na sequência dos temas abordados por Robinson no livro, vale a pena a leitura do breve texto de Álvaro Nicolás publicado pelo Instituto Humanitas, da Unisinos, a respeito da possível antecipação - quase sem que ninguém o queira - de um mundo pós-petróleo. São necessárias, vale sempre lembrar, novas formas de imaginar o mundo.
Profundamente marcada pelo domínio de campos de petróleo, a história recente do Oriente Médio é uma história de violência. Francis Alÿs abordou essa história no vídeo Color Mathing, de 2016, no qual acompanhou as linhas de combate das tropas cordas contra o Estado Islâmico. Momentos de tensão, descanso e reparos têm sua cor “combinada” com a aquarela de Alÿs, de quem só vemos as mãos.
Essa foi a nova edição da newsletter do GTec. Compartilhe, divulgue e se inscreva para receber nossas novidades. A newsletter é enviada quinzenalmente.
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