GTec - Newsletter - 17.05
Newsletter quinzenal do Grupo de Estudos em Filosofia e História da Técnica
Olá, pessoal, esta é a mais nova edição da newsletter do GTec. Nesta edição, divulgaremos o próximo encontro, no qual nos despediremos temporariamente de Gilbert Simondon, assim como trataremos dos imaginários abertos após a leitura de Kim Stanley Robinson, com preferência pela noção de convivialidade, pela discussão sobre a violência revolucionária e um pulo na ficção científica brasileira.
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Próximo encontro
Na quarta-feira, 26/05, às 18h, ocorrerá o próximo encontro do GTec. O evento já foi criado no Facebook e o link da reunião, como de hábito, estará disponível no site da APPH logo antes do início do encontro.
No próximo encontro, que também é nossa vigésima reunião, encerraremos a leitura do livro Do modo de existência dos objetos técnicos, de Gilbert Simondon, que tem nos acompanhado já há alguns meses.
Proporcionar um espaço para a leitura da obra de Simondon foi um dos principais objetivos por trás da criação do GTec e é com bastante alegria que chegamos ao fim desse primeiro projeto levado à cabo coletivamente por todos os integrantes do grupo. A leitura, às vezes mais difícil, às vezes mais fácil, mas sempre instigante do filósofo francês abriu o campo para a exploração da natureza dos objetos técnicos e para a reconceituação de uma série de iniciativas, da filosofia à história, da própria técnica à humanidade em chave não-antropocêntrica.
No nosso próximo encontro, leremos a “Conclusão” do livro, na qual Simondon reforça a necessidade da reflexão sobre a técnica e a tecnicidade como constituintes de uma experiência mais generosa do mundo que inclua humanos e, num vocabulário que ele não utiliza mas podemos acrescentar aqui, não-humanos. Como diz ele, na abertura do capítulo conclusivo de sua obra,
Até hoje a realidade do objeto técnico esteve em segundo plano, atrás da realidade do trabalho humano. O objeto técnico foi apreendido através do trabalho humano, pensado e julgado como instrumento, adjuvante, ou produto do trabalho. Ora, em benefício do próprio homem, conviria poder efetuar uma inversão que permitisse ao que existe de humano no objeto técnico no objeto técnico aparecer distintamente, sem passar pela relação de trabalho. É o trabalho que deve ser conhecido como fase da tecnicidade, não a tecnicidade como fase do trabalho, porque a tecnicidade constitui o conjunto do qual o trabalho é uma parte, não o inverso.
O capítulo para leitura está disponível no seguinte link. O restante do livro está disponível na pasta do GTec no Google Drive.
Mais Kim Stanley Robinson
Apenas como nota informativa, como descobrimos que The Ministry for the Future, de Kim Stanley Robinson, ainda rende uma série de discussões sobre o papel da tecnologia e a abertura de novos imaginários políticos, decidimos que a reunião subsequente à próxima, no dia 09/06, será novamente dedicada à leitura de sua última obra. Assim, quem ainda não completou a leitura ou mesmo quem ainda não a iniciou, tem bastante tempo para se inteirar do conteúdo do romance de Robinson e continuar debatendo as questões que já foram levantadas no último encontro. O livro completo está disponível em formato .epub na pasta do GTec no Google Drive, um oferecimento de nossa colega Brenda Renny.
Outras referências
Renata Aquino abriu nosso último encontro comentando sobre sua descoberta de Kim Stanley Robinson a partir da relação do autor norte-americano com a ficção científica brasileira. Para alguns autores nacionais, a busca por saídas para a crise climática apresentada por Robinson leva a um imaginário bastante distinto da ficção distópica estadunidense que não deixa de ser, à seu modo, parte das angústias relacionadas com o fim do Império norte-americano.
Com relação a isso, autores de ficção científica nacionais têm se organizado em torno ao que denominam Solarpunk, isto é, a utilização do repertório cultural brasileiro para investigar qual o lugar para outras soluções para o mundo atual. Para quem quiser conhecer mais sobre o assunto, a Editora Draco publicou uma coletânea intitulada Solarpunk - Histórias ecológicas e fantásticas em um mundo sustentável.
Vale também destacar que a ficção científica nacional passa por um momento de reconhecimento sem precedentes. Dentre as publicações recentes sobre o tema, fica a dica da coletânea Fractais Tropicais - O melhor da ficção científica brasileira, organizada por Nelson Olivera e lançada pela editora do SESI-SP. O livro fornece um panorama histórico da produção nacional, incluindo autoras e autores que não são comumente identificados com o gênero. Para quem deseja saber mais antes de comprar o livro, deixamos também a referência da live de lançamento do livro feita em 25 de abril do ano passado, disponível aqui.
A relação entre capitalismo, neoliberalismo e antropoceno também foi um dos temas do último encontro, motivada pela forma como Kim Stanley Robison aborda o assunto. Duas formas de abordar a questão pelo prisma do tempo são o artigo “Climate and Capital: On Conjoined Histories", de Dipesh Chakrabarty, e o livro Tempos precários: aceleração, historicidade e semântica neoliberal, do historiador brasileiro Rodrigo Turin. Para uma leitura ainda mais aprofundada - e heterodoxa -, fica o livro de Kathryn Yusoff, A Billion Black Anthropocenes or None.
Mais especificamente para os colegas da história, fica também a referência do artigo “The Anthropocene and the Time of Historians”, de Grégory Quenet, publicado nos Annales em 2019.
Kim Stanley Robinson destaca o papel da blockchain na superação do sistema financeiro atual. Sua visão do fenômeno não deixa de ser positiva, apesar da extensa bibliografia sobre os desafios e as limitações da tecnologia. Sobre o assunto, vale a leitura do artigo de Nigel Dodd, “The Social Life of Bitcoin”, cujo argumento sustenta que, ao contrário do que os partidários da Bitcoin afirmam acerca da possibilidade de uma moeda que se esquiva da noção de "confiança”, substituindo-a por seu funcionamento algorítmico, mesmo a criptomoeda é espaço para o surgimento de formas de sociabilidade que ressaltam o papel social do dinheiro. Dodd é um economista britânico cuja obra mais conhecida é justamente The Social Life of Money.
Outra questão bastante debatida foi o papel da violência na superação de relações de opressão e na obtenção da autonomia de grupos subalternos. Conquanto Frantz Fanon seja a leitura obrigatória sobre o tema, também comentamos sobre o livro de Elsa Dorlin, Autodefesa: uma filosofia da violência, recentemente editado no país pela Ubu. Na pasta do GTec, disponibilizamos o livro no original em francês.
Por mais paradoxal que pareça à primeira vista, as relações de solidariedade estabelecidas na luta contra a opressão, mesmo quando recorrem à violência, se pautam no entendimento das potencialidades liberatórias que se abrem quando grupos subalternos escapam ao entendimento negativa da humanidade que tem marcado a filosofia ocidental há séculos e é parte do pressuposto por trás da leitura hobbesiana do Estado moderno. Respondendo a isso, alguns autores têm levantado o conceito de “convivialidade” como forma de ressaltar que, na ausência do Estado, os indivíduos podem buscar formas de cooperação, e não retornar à luta de todos contra todos.
Sobre o tema, nosso colega Gabriel Gonzaga lembrou do livro do teórico anarquista Ivan Illich, Tools for Conviviality, assim como de After Empire - Melancholy or Convivial Culture?, de Paul Gilroy. Ambas as leituras propõem, de maneira radical, a “convivialidade” como conceito norteador das sociedades humanas antes, fora e, talvez, contra o Estado em suas formas mais coercitivas.
Para quem ficou curioso, a imagem que serve de divulgação para o próximo encontro do GTec é um registro da performance Satellite Arts Project, uma comissão da NASA aos artista norte-americanos Sherrie Rabinowitz e Kit Galloway em 1977. Pioneiros da arte eletrônica, Rabinowitz e Galloway utilizaram tecnologias de teleconferência para criar uma performance de dança colaborativa em lugares diferentes ao mesmo tempo. O site da Rhizome, organização sem fins lucrativos dedicada à preservação da arte digital, tem mais informações sobre o trabalho e outras obras da dupla.
Pintura de Aaron Douglas (1899-1979), artista-chave da chamada Renascença do Harlem, movimento artístico e cultural afro-americano das décadas de 1920 e 1930. O quadro acima foi criado para a capa do livro God's Trombones, de James Weldon Johnson, editado em 1927.
Essa foi a nova edição da newsletter do GTec. Compartilhe, divulgue e se inscreva para receber nossas novidades. A newsletter é enviada quinzenalmente.
Lembrando que o GTec é uma atividade apoiada pela Associação de Pesquisas e Práticas em Humanidades, com sede em Porto Alegre e ramificações por todos os lugares que a internet alcança. É uma organização sem fins lucrativos, mantida apenas pelo trabalho dos colaboradores e pelas atividades realizadas nela. Por esse motivo, se você puder, apoie a APPH através da conta do apoia.se/apph