GTec - Newsletter - 02.07
Newsletter quinzenal do Grupo de Estudos em Filosofia e História da Técnica
Olá, pessoal, esta é a mais nova edição da newsletter do GTec, na qual divulgaremos as muitas novidades do grupo, incluindo nossa primeira sessão de cinema!
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Próximo encontro
Nosso próximo encontro será no dia 14/07, às 18h. Lembrando que o link da reunião estará disponível no site da APPH logo antes do encontro.
No próximo encontro, iniciaremos um percurso relacionando técnica, raça e modernidade. Faremos isso a partir da leitura de Frantz Fanon, filósofo e psiquiatra martinicano que teve papel decisivo na luta de independência da Argélia e nos estudos sobre raça e racismo, e de um pequeno texto de Rayvon Fouché sobre tecnologia e infraestrutura nos Black Studies norte-americanos.
De Fanon, leremos “Essa é a voz da Argélia”, do volume Sociologia de uma revolução, no qual o autor destaca a importância do rádio na luta anticolonial e na formação de uma consciência nacional argelina. Longe de ser um tema periférico em sua obra, a análise exemplifica como a tecnologia está implicada em situações de poder. O ensaio também revela aplicações de conceitos desenvolvidos ao longo de toda a sua obra, como “alienação” e “sociogenia”. O texto está disponível nas versões em inglês e espanhol.
Junto de Fanon, complementaremos a discussão com um pequeno artigo de Rayvon Fouché, professor da Purdue University. Escrito logo após a trágica passagem do furacão Katrina por New Orlenans, na Louisiana, nos Estados Unidos, o texto de Fouchè aborda como a quebra das barreiras de proteção em torno do rio Mississippi revelaram um contexto racial na própria organização da infraestrutura da cidade, formada majoritariamente por pessoas negras. Como resposta, Fouchè clama por uma maior preocupação dos Black Studies com a questão tecnológica e infraestrutural. O texto de Fouchè pode ser encontrado no seguinte link.
Os textos estão disponíveis na pasta do GTec no Google Drive.
The Last Angel of History
O GTec também fará sua primeira sessão de cinema. No dia 07/07, às 18h, transmitiremos via Discord (mais uma novidade do grupo!) o filme The Last Angel of History. Dirigido por John Akomfrah, o média metragem é a obra mais conhecida do Black Audio Film Collective, coletivo artístico e cinematográfico formado no Reino Unido nos anos 1990. Conectando passado, presente e futuro, o filme segue o percurso de um viajante no tempo em busca da encruzilhada na qual Robert Johnson descobriu um segredo tecnológico: o blues e toda a tradição da música negra na diáspora africana.
O filme é um dos exemplos melhor acabados das potencialidades criativas do afrofuturismo. Ele resgata a importância da música nas tradições culturais africanas e afro-diaspóricas, ao pensar que os tambores são a primeira tecnologia afrofuturista. Com isso, ele coloca em filme a reflexão de Paul Gilroy em Atlântico negro sobre o papel da música na transmissão da memória e no desenvolvimento das identidades afro-diaspóricas. Os mesmos aspectos são ressaltados por Kodwo Eshun em “Further Considerations on Afrofuturism”, texto de 2003 que retraça a trajetória do Black Audio Filme Collective.
O Black Audio Film Collective, do qual Eshun fez parte, e o coletivo seguinte, The Otolith Group, também liderado por Akomfrah, foram objeto de uma coletânea organizada pelo próprio Eshun junto de Anjalika Sagar, disponível no seguinte link. No Brasil, os dois grupos tiveram uma mostra dedicada a suas obras no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, no ano de 2017. O catálogo da exposição, organizado por Lucas Murari e Rodrigo Sombra, também está disponível na pasta do GTec no Google Drive.
Canal no Discord
Para facilitar nossa comunicação entre os encontros, criamos uma sala no Discord dentro do canal da APPH no aplicativo. Para entrar, basta acessar o link e fazer login, em caso de não ter previamente uma conta no Discord.
Para os colegas que foram no último encontro, a discussão já está animada lá e pronta para receber mais pessoas. Será pelo Discord que faremos a exibição de The Last Angel of History na próxima quarta-feira, 07/07, às 18h.
Cronograma de leituras
Também decidimos as leituras dos próximos encontros. Para quem quiser se antecipar, após o nosso próximo encontro, na quarta-feira, 14/07, dedicado à leitura de Fanon e à problematização da técnica, voltaremos à leitura de Bernard Stiegler no dia 21/07. Nesse caso, leremos a introdução do primeiro volume de Técnica e tempo e o primeiro capítulo da primeira parte do livro.
No dia 04/08, também às 18h, teremos um segundo encontro dedicado à relação entre raça e técnica. Intitulado Raça após a tecnologia, ele seguirá o livro de Ruha Benjamin de mesmo nome. Mais próximo do encontro, divulgaremos os capítulos do livro que serão lidos para o debate.
Por fim, na quarta-feira, 18/08, voltaremos a Stiegler com o segundo capítulo da primeira parte de Técnica e tempo. Todas as leituras de Stiegler estão disponíveis na edição em inglês do livro, o qual pode ser acessado aqui.
Tecnologias negras
Frantz Fanon tem passado por uma intensa revalorização no Brasil, com a publicação de novas edições de seus trabalhos mais conhecidos e a publicação de coletâneas de textos ainda inéditos no país. No ano passado, a editora Ubu editou uma nova tradução de Pele negra, máscaras brancas, obra seminal do pensamento pós-colonial e da teoria racial pelo pensador martinicano. A UFBA já havia publicado uma tradução há alguns anos que se encontra em acesso aberto. A edição da UFBA está disponível aqui.
Os condenados da terra, obra escrita em meio ao movimento de libertação da Argélia e de grande influência na história das práticas de emancipação nacional na África, na Ásia e na América foi publicado no Brasil nos anos 1960 (e ainda aguarda uma nova edição). O livro, editado pela Civilização Brasileira em 1968, está disponível aqui.
A Ubu também editou recentemente uma seleção dos textos de psiquiatria de Fanon. Traçando a relação entre alienação colonial e doenças mentais, Alienação e liberdade- escritos psquiátricos é uma boa introdução em outra faceta do pensamento do autor.
Já mencionamos aqui, mas a tese de Ivo Pereira de Queiroz, defendida no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Federal Tecnológica do Paraná é uma bela (e inovadora) leitura de Fanon à luz da reflexão sobre a técnica. Para acessá-la, basta clicar aqui.
Rayon Fouché, por sua vez, é um pensador da relação entre raça, tecnologia, identidade e design. Ele contribuiu com a organização de The Handbook of Science and Technology Studies e alguns dos princípios por trás de sua atuação podem ser encontrados neste pequeno vídeo de 2008, “Black Vernacular Technological Creativity”.
Parte das investigações de Fouché são oriundas do pensamento de Ishmael Reed, cuja obra e suas relações com a tecnologia são exploradas no artigo “Slave Cyborgs and the Black Infovirus: Ishmael Reed’s Cybernetic Aesthetics”, de Michael A. Chaney, disponível aqui. Escrevendo em 2003, Chaney afirma que a relação entre raça e tecnologia tem sido pouco explorada, uma lacuna que, desde então, outros coletivos, como Black Quantum Futurism, ou os trabalhos Tarcizio Silva e a newsletter Desvelar têm procurado preencher. Já no YouTube, Ingrid LaFleur, no canal The Afrofuture Strategies Institute, disponibilizou uma série de entrevistas com pesquisadoras, pesquisadores, artistas e ativistas para discutir as estratégias para a ocupação negra do futuro. Vale a pena conferir o acervo de entrevistas reunido no canal.
Trata-se de um amplo campo de investigação que ainda tem muito a contribuir para subverter as leituras tradicionais sobre o mundo técnico e o espaço do humano. O que restam das relações impróprias entre técnica e ser quando o sujeito não é descorporificado, mas uma pessoa racializada? Existe sujeito sem corpo ou raça?
Outras referências
Um dos temas que foram abordados no último encontro, por ocasião da leitura de Bernard Stiegler, foi a relação entre cultura e velocidade. Existem diferentes maneiras de abordar o encontro (ou desencontro) entre ambas. Uma peça inaugural desse tipo de reflexão é o conhecido texto de Thomas de Quincey, “A mala postal inglesa”, publicado originalmente em 1859. O texto está disponível no original em inglês no seguinte link.
Relacionando velocidade, tecnologia e as culturas negras afro-diaspóricas, Paul Gilroy oferece uma leitura da relação dos afro-americanos com os automóveis na sua série de palestras Darker Than Blue. Sempre vale a pena ler Gilroy, um dos pensadores mais instigantes a se posicionarem na fronteira entre a raça e o pós-racial.
Stiegler menciona a obra do matemático e filósofo francês Gilles Châtelet e nosso colega Rafael Moscardi Pedroso já se antecipou em disponibilizar uma de suas últimas obras. L’enchantment du virtuel, publicado em inglês como Figuring Space, é uma obra que procura reconectar a técnica e o humanismo através da consideração da mobilidade e da relação do virtual com o atual na matemática, na física e na filosofia.
Para encerrar, a relação entre Marx, trabalho e natureza por meio das metáforas tecnológicas, principalmente da termodinâmica, também foi mencionada no último encontro. Quem resgatou a discussão foi Amy Wendling com Karl Marx on Technology and Alienation, de 2009. Na sequência, John Bellamy Foster e Paul Burkett, pioneiros da leitura ecossocialista do pensamento marciano, responderam a Wendling em Marx and the Earth: An Anti-Critique. Mais recentemente, por fim, Kohei Saito procurou uma postura intermediária entre as duas obras com Karl Marx’s Ecossocialism: Capital, Nature, and the Unfinished Critique of Political Economy, de 2017.
Fotografia de Robert Frank, incluída no fotolivro The Americans, publicado originalmente em 1958.
Essa foi a nova edição da newsletter do GTec. Compartilhe, divulgue e se inscreva para receber nossas novidades. A newsletter é enviada quinzenalmente.
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