GTec - Newsletter - 02.06
Newsletter quinzenal do Grupo de Estudos em Filosofia e História da Técnica
Olá, pessoal, esta é a mais nova edição da newsletter do GTec. Nela, divulgaremos nosso próximo encontro, novamente dedicado a Kim Stanley Robinson, e falaremos de trabalho, Simondon, arquitetura, Stiegler, dinheiro, Marx e um pouco de cibernética.
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Próximo encontro
Nosso próximo encontro acontecerá na quarta-feira, 09/06, às 18h. O link para o evento já foi criado no Facebook e também já está disponível no site da APPH. Para entrar na reunião, basta acessar o site da APPH logo antes do encontro.
Como descobrimos, sem muita surpresa, que o último livro de Kim Stanley Robinson, The Ministry for the Future, renderia prolongadas discussões sobre trabalho, economia, o imaginário político, a relação entre lei, Estado e violência, entre tantos outros temas, decidimos continuar sua leitura em mais um encontro.
Dessa forma, a próxima reunião será dedicada ao término de The Ministry for the Future e à discussão das soluções propostas pelo autor para os principais problemas contemporâneos, sendo a mudança climática o principal. Quais são os futuros possíveis que se abrem com a adoção de novas técnicas, assim como o estabelecimento de novos limites e novas potencialidades para a atuação humana, tal como apresentadas no livro?
O livro encontra-se disponível na pasta no Google Drive do GTec em formato .epub.
Mais sobre Kim Stanley Robinson
Dentre a fortuna crítica que já se acumula sobre The Ministry for the Future, vale a pena conferir duas entrevistas com Kim Stanley Robinson que realmente aprofundam o debate não apenas sobre as propostas apresentadas por ele no livro, mas também comentam sua trajetória, a relação do romance com suas outras obras e seu processo criativo. A primeira entrevista foi concedida para o Los Angeles Review of Books no final de 2020, enquanto a segunda, conduzida em vídeo e transcrita integralmente, está disponível no site Bioneers. Ambas fornecem amplos subsídios para entender o que está em jogo na obra e como Robinson pensa acerca de seu trabalho (além de informações curiosas sobre a escolha de Zurique como cenário para a maior parte da ação).
Lembrando que o Los Angeles Review of Books tombém publicou uma resenha de The Ministry for the Future, como indicado na nossa newsletter de 05/05.
Uma terceira referência sobre o livro, por fim, é o evento na Rutgers University “The Ministry for the Future - Science and Fiction: Envisioning Climate Action”, com uma fala do autor sobre a relação entre literatura e ciência e os fundamentos das propostas apresentadas no romance.
Mais Simondon
Ainda inesgotável, o término da nossa leitura de Do modo de existência dos objetos técnicos não encerrou nosso engajamento com a obra de Gilbert Simondon. Quanto a isso, ficam a referência de dois artigos que discutem seu pensamento, mostrando sua produtividade para diferentes áreas de reflexão.
O primeiro é “Estrutura e operação: por uma cenografia operativa”, de João Carlos Machado. Publicado nos Anais ABRACE, o texto relaciona a construção da cenografia às noções de estrutura, operação e operacionalidade trabalhadas por Simondon. De fato, o conceito de “operação” ganha força ao final do livro de Simondon, e o autor procura trabalhá-lo a partir de uma perspectiva que, segundo ele, privilegia a “imaginação material”, de Gaston Bachelard, para demonstrar que “a operatividade associa o aspecto processual do trabalho criativo através do aspecto factual dos materiais e procedimentos”.
Uma segunda leitura, que escapou da última edição da newsletter, é o artigo colaborativo de Ricardo Medeiros Pimenta e Rodrigo Piquet Saboia de Mello, que aplica o pensamento de Simondon para estabelecer os fundamentos de uma prática arquivística mais apropriada aos saberes indígenas. O artigo, intitulado “Olhares e práticas convergentes da informação: sobre Gilbert Simondon, interdisciplinaridade e saberes indígenas”, foi publicado na revista Eco Pós, da UFRJ.
Rodrigo Piquet Saboia de Mello é um pesquisador interessado no desenvolvimento de práticas arquivísticas que estejam atentas às características dos saberes indígenas, empregando, além de Simondon, também os conceitos do perspectivismo ameríndio. Sua tese de doutorado, defendida em março de 2019 no IBICT/UFRJ sob a orientação de Ricardo Pimenta, está disponível no seguinte link.
Também comentamos sobre a semelhança entre o pensamento de Simondon e outro autor relativamente obscuro do pensamento social francês, Gabriel Tarde (1843-1904). Controverso, o criminologista e fundador da sociologia francesa desenvolveu uma teoria social a partir das noções de rede, imitação e diferença. A Cosac Naify editou há alguns anos uma coletânea intitulada Monadologia e Sociologia, que merece uma reedição. Na pasta do GTec também subimos a edição em inglês da mesma coletânea.
Tarde, que era um pensador bastante idiossincrático, também tem um livro especulando sobre o futuro em perspectiva não muito dissemelhante a Robinson. “Fragmento de uma história futura”, escrito na década de 1880 e publicado apenas em 1905, um ano após sua morte, mostra uma civilização interconectada ameaçada pela catástrofe climática. A pasta do GTec tem a fábula futurista na edição em espanhol, junto do prefácio de H.G. Wells para a obra.
Bernard Stiegler, Técnica e tempo
Com o término da leitura de Do modo de existência dos objetos técnicos, acertamos nossa próxima leitura integral. Trata-se do primeiro volume de Técnica e tempo, de Bernard Stiegler, infelizmente falecido no ano passado. Os encontros de leitura de Stiegler se sucederão capítulo a capítulo de forma intercalada com os encontros dedicados a outros textos, da mesma forma que fazíamos com Simondon. Para quem quiser adiantar a leitura, o livro está disponível na pasta do GTec na tradução em inglês.
Mais referências
Um dos principais temas abordados no último encontro foi o trabalho. O assunto foi comentado a partir de diversas perspectivas. Quanto a isso, do ponto de vista da relação entre classe, raça e trabalho, mencionamos mais uma vez o livro de Cedric Robinson, Black Marxism, que está sendo traduzido para o português. Ainda na intersecção entre trabalho e raça, os trabalhos de Luiz Antonio Simas sobre a história do samba têm resgatado o potencial do gênero não apenas como música popular, mas também como música de resistência, inclusive aos regimes capitalistas de trabalho. Sobre a relação entre gênero e indústria criativa, fica a referência dos trabalhos de Angela McRobbie, Feminism and the Politics of “Resilience”e Be Creative: Making a Living in the New Culture Industries. Numa perspectiva ampliada, o livro de David McNally, Blood and Money, trata da relação entre Estado, dinheiro e poder, com as devidas referências ao tema do trabalho.
A principal questão, em todas as leituras, é qual o significado do trabalho e se é possível escapar a uma leitura na qual a definição de humanidade e trabalho estão intimamente associadas para outras relações que enfatizem o potencial emancipador de nossa relação com o mundo.
Além do trabalho, também foi mencionado o livro Architecture as Metaphor: Language, Number, Money, de Kojin Karatani. Para o filósofo e crítico japonês, uma “vontade de arquitetura” é o traço comum na fundação do pensamento ocidental, o que tem repercussões também sobre a natureza do trabalho, principalmente na relação com o conceito de poiesis.
Uma segunda obra que trabalha a “arquitetura como metáfora” é Contagious Architecture: Computation, Aesthetics, and Space, de Luciana Parisi. A autora destaca o papel performativo dos algoritmos na criação da espaço habitado, partindo simultaneamente do pensamento de Alfred N. Whitehead e da cibernética.
Ainda relacionado ao trabalho e ao espaço, vale a pena ler o belo artigo de David Riff, “Was Marx a Dancer?’, publicado em 2015 na e-flux. Riff explora o papel das metáforas de movimento e dança no pensamento de Marx, ressaltando a dinamicidade em sua vida e sua obra.
Também em edições passadas da e-flux, o texto “My Collectible Ass”, de McKenzie Wark, é uma boa introdução conceitual, além de breve e divertida, para o aumento de interesse em criptomoedas e non-fungible tokens (NFTs). Seu argumento é que as imagens que viralizam são raras, já que numa realidade saturada midiaticamente, são poucas as imagens que ganham ampla circulação. Isso inverte a relação entre valor e raridade, abrindo caminho para a comercialização de bens culturais como mercadorias não-rivais.
Por fim, o podcast Tech Won’t Save Us, que já foi mencionado em nossa newsletter, encerrou uma série de quatro episódios destacando histórias alternativas da tecnologia contemporânea, principalmente da internet. Os temas abordados foram o papel do estimulo financeiro estatal na criação do Vale do Silício, com Margaret O’Mara; a história do sistema Minitel, na França, que era uma espécie de internet local ao Estado francês, com Kevin Driscoll; o projeto Cybersyn, no Chile, com Eden Medina; e o problema do por que a União Soviética não foi a primeira a desenvolver a internet, com Benjamin Peters. Todos os episódios são ricos não apenas em informações sobre esses projetos, alguns deles desconhecidos, mas também por questionarem os pressupostos e os modos tradicionais de contar a história da tecnologia. Em especial, os três capítulos que não são centrados nos Estados Unidos também mostram a repercussão internacional da cibernética entre as décadas de 1950 e 1970.
A imagem de divulgação do próximo encontro do GTec não poderia ser outra senão Spiral Jetty, do norte-americano Robert Smithson. Localizada em Utah e terminada em 1970, a obra é um marco na história da land art e um testamento à possibilidade de terraformação positiva e criativa com relação ao ambiente do nosso planeta.
Essa foi a nova edição da newsletter do GTec. Compartilhe, divulgue e se inscreva para receber nossas novidades. A newsletter é enviada quinzenalmente.
Lembrando que o GTec é uma atividade apoiada pela Associação de Pesquisas e Práticas em Humanidades, com sede em Porto Alegre e ramificações por todos os lugares que a internet alcança. É uma organização sem fins lucrativos, mantida apenas pelo trabalho dos colaboradores e pelas atividades realizadas nela. Por esse motivo, se você puder, apoie a APPH através da conta do apoia.se/apph